quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A Guerra do Fogo

REFLEXÃO SOBRE O FILME A GUERRA DO FOGO







O período da pré-história representado é o Paleolítico, também conhecido como Idade da Pedra Lascada. Foi nesta época que surgiram as primeiras espécies de hominídeos. Mais a frente, neste mesmo período, o homem utiliza pela primeira vez o fogo e, além disso, aprimora e desenvolve suas técnicas de caça utilizando novos instrumentos, feitos com ossos, madeira ou pedra lascada.

O elemento central da historia é a necessidade do homem em relação ao fogo, em dominar a técnica necessária para obtê-lo, o que acaba levando a muitas outras questões, como a dificuldade de sobrevivência entre tribos rivais.

No roteiro, são vistos três diferentes grupos de hominídeos, mas a história centraliza-se em duas tribos, uma mais primitiva (tribo Ulam) e outra um pouco mais evoluída (tribo Ivaka). O encontro entre esses dois grupos acontece depois de uma batalha entre a primeira tribo e um grupo ainda mais primitivo, na qual a chama dos Ulam se extingue, obrigando alguns de seus membros a saírem em busca do fogo novamente, já que eles ainda não conheciam o meio de obtê-lo.
A tribo Ulam, mais primitiva, possuía características obviamente distintas da tribo Ivaka. Os Ulam alimentavam-se basicamente de animais obtidos através da caça e não usavam muito bem o fogo para prepará-los, além de ovos crus que conseguiam em ninhos de aves. Já os Ivaka mostravam-se mais evoluídos, utilizando o fogo para preparar a carne, experimentando novos sabores. Via-se ainda o consumo de diversas frutas e uma maior variedade em seu cardápio. Os Ulam usavam como vestimentas peles de animais caçados que eram jogadas por cima do corpo, apenas para proteger do frio. Sua moradia eram as cavernas, onde se abrigavam a noite para se proteger dos animais e também do frio. Por não deterem o poder de obtenção do fogo, eles o cultivavam como algo sagrado, em uma pequena tocha protegida, que era utilizada para acender fogueiras maiores. Em relação à liderança política do grupo, pode-se observar que não há essa distinção na tribo Ulam, um líder somente é escolhido a partir do momento em que se tem a necessidade de separação do grupo para que se recupere o fogo. Esta tribo é bastante primitiva em suas relações sociais com demais grupos, condição que vai melhorando com a chegada de um membro feminino da tribo Ivaka, tribo que sabe como obter o fogo. Na tribo Ulam não há nenhuma tecnologia, o único avanço em relação a demais animais é a chama cultivada que logo se apaga e o uso de peles para se proteger do frio. Não há expressão artística em nenhum momento, não há pintura ou adornos, nada que seja usado além da necessidade existente. Também não existe uma linguagem; os Ulam se comunicavam apenas através de gestos, gritos e grunhidos, que expressavam sentimentos mais simples, como a dor, o susto ou a euforia.
A tribo Ivaka mostra-se muito mais evoluída em diversos aspectos. O primeiro que se pode observar é o vestuário que se mistura com uma expressão artística, já que são utilizadas pinturas pelo rosto e corpo dos membros da tribo, além de cabelos e barbas aparados. As roupas são usadas de forma diferente e não apenas para proteger do frio. Podem-se observar adornos e enfeites utilizados por todos os membros, mostrando alguma semelhança com tribos indígenas. Sua moradia parece mais fixa, com cabanas organizadas e grandes fogueiras. A tribo conhece o meio para se fazer o fogo, vivendo de um modo mais tranqüilo e muito mais organizado; além de utilizá-lo para mais finalidades, facilitando a sobrevivência do grupo. Nesta tribo há um líder comandando e direcionando as atividades. O mais velho tem o respeito de todos e juntamente com outro integrante também mais velho, guia a tribo. As relações sociais não são muito mais evoluídas, uma vez que em dado momento em que avistam um integrante da tribo Ulam, começam um ataque. Mas este ataque cessa depois que uma Ivaka mostra ‘conhecer’ o Ulam atacado. A tecnologia existe e se vê em todas as atividades da tribo: as vestimentas vistas não apenas como necessidade; a alimentação mais ‘sofisticada’ e mais variada; as cabanas construídas como moradia; a arte presente na pintura dos corpos e a noção de cabelos cortados e mais arrumados e os adereços utilizados, e a mais importante naquele período: a capacidade de obter o fogo, sem a qual a maioria das atividades estaria comprometida, não tornando os Ivaka muito diferentes dos Ulam. Outro ponto muito importante é a utilização da linguagem pela tribo Ivaka. Eles possuíam um método de se comunicar que não estava limitado a gestos e gritos; já conseguiam manter uma linha de comunicação utilizando palavras e conversando como em um dialeto.


Vários conflitos podem ser observados ao longo da história, tanto físicos quanto psicológicos. O filme inicia com uma batalha entre tribos distintas; nesta batalha ocorre a perda da chama que a tribo cultivava. Deste conflito inicial, surgem muitos outros ao longo do filme. Os Ulam se vêem desprotegidos sem o fogo que eles não sabem como fazer. Na busca por essa chama, os escolhidos para encontrá-lo enfrentam perigos ao longo do caminho, como leões e outros predadores. Em número pequeno e sem condições de caçar direito, parte da tribo passa fome, enquanto não se sabe o que ocorre com a outra parte que ficou na espera do fogo. Nessa caminhada, há o encontro entre grupos diferentes, pontuando mais um conflito. Encontrar e aceitar um grupo visivelmente mais evoluído e totalmente desconhecido marca também um conflito interior em todos os seres envolvidos. A gravidez de uma integrante da tribo Ivaka trouxe bastantes mudanças para o contexto em que eles estavam vivendo, pois ela se relacionou com um integrante da tribo Ulam e depois deste acontecimento percebe-se que houve uma união entre seres de espécies diferentes , de etapas de evolução distintas e conseqüentemente um avanço nas relações humanas. O que torna uma nova etapa para toda a raça humana.







Em seu Ensaio sobre a Origem das Línguas, Rousseau considera que desde que um homem foi reconhecido por outro como um ser sensível, pensante e semelhante a si próprio, passou a existir neles uma intensa necessidade de verbalizar suas emoções e reflexões ou idéias, nascendo dessa precisão a linguagem. No filme, a tribo Ulam não tinha uma linguagem estabelecida; a comunicação era feita através de gritos e grunhidos. Este tipo de comunicação chega muito perto do que Rousseau diz a respeito da primeira manifestação de linguagem do homem, que, através desses sons, encontra um meio de expressar suas emoções.


De acordo com Darwin, a espécie humana passou por uma evolução gradativa ao longo de milhões de anos. A Teoria da Evolução das Espécies sustenta que não coexistiram hominídeos em estágios evolutivos distintos. Esta teoria não corresponde ao exibido no filme, uma vez que são mostrados diferentes grupos de hominídeos, como homo neanderthalensis e homo sapiens.


Nas cenas iniciais, a imagem da fogueira representa a individualidade de uma tribo que vivia isolada e sem conhecimento de como obter o fogo, algo que na época era essencial para a sobrevivência. A maneira pela qual foi iniciado e terminado o filme é uma forma de comparar o quanto somos diferentes no início e ao fim de cada etapa. Nas cenas finais do filme, a imagem da mesma fogueira passa uma idéia diferente da percebida no início, pois mostra um avanço das relações entre hominídeos diferentes que habitavam aquele lugar em uma mesma época. Percebemos que a maneira individualista na qual viviam foi se extinguindo com a junção de espécies diferentes, algo que antes não era possível pela não existência de uma noção de relações interpessoais. Ao enxergar o outro como um ser semelhante, o homem facilitou o relacionamento e a evolução das tribos que se uniram com um novo propósito. A imagem final da fogueira representa mais segurança para espécies num mundo totalmente desconhecido e inexplorado, com uma nova esperança através de uma criança, fruto da relação entre duas tribos em etapas distintas da evolução da espécie humana.